Entre os números 21 e 37 da Rua Duvivier, em Copacabana, parte da história musical do Rio de Janeiro cresceu e conquistou fãs. Nas boates e nos bares do conhecido Beco das Garrafas, grandes nomes da bossa nova fizeram seus primeiros shows, formaram amizades e despontaram para o estrelato.
O novo gênero musical desceu dos apartamentos da Zona Sul e conectou o público aos artistas nas boates Little Club, Bacarat e Bottle’s. Os três locais eram conhecidos como “fumaceiros” por serem pequenos e fechados, fazendo com que a fumaça dos cigarros dos frequentadores se espalhasse por todo o ambiente.
Pela importância cultural para a cidade e, também, para a música popular brasileira, a Prefeitura declarou o Beco das Garrafas Bem Cultural de Natureza Imaterial. O ato busca preservar parte da memória musical do Rio e homenagear o local que, nas décadas de 1950 e 1960, recebeu apresentações de Dolores Duran, Elis Regina, Wilson Simonal, Leni Andrade, Jorge Ben, Sérgio Mendes, Dom Salvador, Edu Lobo, Tamba Trio, Baden Powell, além dos produtores Luiz Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli.
História por trás do nome
Para muitos, o Beco das Garrafas ganhou esse nome devido ao rastro de garrafas vazias abandonadas pela grande quantidade de boêmios que passavam as noites por lá.
Porém, a verdadeira história é ainda mais inusitada. A movimentação dos shows, as conversas altas nas saídas dos bares e o barulho dos carros particulares começaram a incomodar os moradores dos antigos prédios de Copacabana. Alguns, mais revoltados, tomaram a iniciativa de jogar garrafas na direção dos barulhentos boêmios, a fim de expulsá-los da rua.
O fato ganhou os jornais, e o cronista Sérgio Porto, que assinava textos com o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, se referiu ao local como “beco das garrafadas”. Posteriormente, o nome foi reduzido para Beco das Garrafas.
Revitalização
Com o sucesso da bossa nova, muitos artistas que começaram nos night clubs da Rua Duvivier partiram para turnês em outros estados e países. O gênero ganhou o mundo e as pequenas casas de shows não tinham mais capacidade para o grande público. Os empresários também não conseguiam mais arcar com os altos cachês que os artistas passaram a solicitar. Dessa forma, os bares foram perdendo clientes e o Beco caiu no esquecimento.
Em 2014, uma cervejaria comandou um projeto de revitalização do local, com shows de novos nomes da música popular brasileira. A iniciativa reergueu o Little Club e juntou o Bacarat com o Bottle’s, para aumentar a capacidade de público. Parte da renda arrecadada com os ingressos da reinauguração foi direcionada à manutenção e preservação do local.
Cinquenta anos depois do primeiro show de Elis Regina no Rio de Janeiro, o Beco reabriu com a expectativa de reviver a tradição da bossa carioca e tornar-se um espaço para apresentação de novos talentos.