Um dos pontos mais conhecidos de Madureira e que projeta o bairro para além de suas fronteiras como grande centro comercial, o Mercadão de Madureira foi declarado Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial pela Prefeitura do Rio. O local, além de ser um dos últimos grandes mercados da cidade, colabora, com seus comerciantes, para a preservação da memória do cidadão e das tradições religiosas afro-brasileiras.
Uma pequena feira de produtos agropecuários, que acontecia em 1914 no local onde hoje fica a quadra da escola de samba Império Serrano, é considerada o primeiro Mercado de Madureira. O comércio abastecia os moradores do subúrbio do Rio, que, na segunda década do século XX, havia alcançado seu primeiro milhão de habitantes. Obras de ampliação da linha férrea da Central do Brasil provocaram a mudança do Mercado de Madureira para um então campo livre, existente no lado oposto da estação de trem, no entroncamento da Estrada do Portela com a Marechal Rangel.
As primeiras reformas
Após a Primeira Guerra Mundial, a escassez de carvão para a movimentação dos trens a vapor favoreceu um plano de eletrificação das ferrovias, na época o principal meio de transporte da população do subúrbio. Em 1922, foi inaugurada a nova Estação Engenheiro Leal, próxima ao fundo do Mercado de Madureira, contribuindo para o crescimento do comércio da região.
O desenvolvimento acelerado do espaço – que, a cada dia, acumulava novos comerciantes saídos de feiras menores – motivou o então prefeito da cidade, Antônio Prado Júnior, a construir um pavilhão de boxes na área central do mercado, em 1929. Na época, Prado Júnior afirmou na Câmara dos Deputados que “o futuro Mercado de Madureira, prestes a ser inaugurado, será dotado dos melhores requisitos, constituindo um tipo modelo, a servir de paradigma, quer para a melhoria e aperfeiçoamento dos demais já existentes, quer para orientar a construção de futuros mercados”. As obras de ampliação de 1929 transformaram o local no maior centro de distribuição de alimentos do subúrbio.
Ao longo dos anos 1940, o Rio de Janeiro contava com três grandes centros de distribuição para suprir o abastecimento da população: Rua Acre, Mercado Municipal da Praça Quinze e Mercado de Madureira. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, o governo federal estabeleceu um programa de racionamento de energia e de alguns gêneros alimentícios. A escassez forçava um maior intercâmbio entre os três centros distribuidores e, na ocasião, os comerciantes de Madureira ficaram responsáveis pelo recebimento de hortaliças, legumes, frutas e carnes vindos de Jacarepaguá, Santa Cruz e Campo Grande. Com o fim do controle de alimentos no pós-guerra, o Mercado já havia crescido de forma bastante desordenada.
Em 1948, então, uma segunda grande reforma foi instaurada pelo prefeito general Mendes de Morais. Reinaugurado em 1949, o mercado possuía 26 novos boxes, uma área de recuperação de caixotes e um prédio de três pisos no espaço frontal, que hospedava as dependências da administração e fiscalização, além dos escritórios dos grandes atacadistas.
O Mercadão que conhecemos hoje
Durante a década de 1950, a estrutura da edificação se aproximava do limite da sua capacidade operacional, e a degradação do espaço era crescente. Por ser a céu aberto, os comerciantes, clientes e as mercadorias sofriam com o calor e sol forte e, também, com as chuvas. Paralelamente aos problemas estruturais do mercado, o crescimento do Rio de Janeiro e de Madureira tornava necessárias obras de infraestrutura, como viadutos e novas estradas, que motivaram uma nova mudança de local.
Em 1956, um grupo de comerciantes fundou a Associação dos Locatários, Prepostos e Representantes do Mercado de Madureira (ALPREMM), que teve como primeira grande missão negociar com o poder público a não demolição do espaço, e sim sua restauração. A partir de um projeto de 1955, que previa a construção de um novo grande centro comercial no bairro, a Companhia Brasileira de Financiamento Imobiliário (Cibrasil) deu início às obras, nos primeiros meses de 1957. Em 18 de dezembro de 1959, foi inaugurado o chamado Entreposto Mercado do Rio de Janeiro, na Avenida Ministro Edgar Romero, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek.
Durante anos, o Mercadão cresceu e expandiu sua clientela, passando a comercializar mercadorias diversas além dos gêneros alimentícios, como artigos decorativos e de festas, material escolar, artigos religiosos e até animais. No início do ano 2000, após as vendas de fim de ano, um grande incêndio destruiu as lojas do prédio principal e 50% do anexo. Cerca de 300 proprietários perderam seus patrimônios na tragédia.
Com a estrutura comprometida, o prédio teve de ser demolido e reconstruído do zero, contando com o apoio do poder público e da população, que já havia abraçado o Mercadão como parte da cultura carioca. Um projeto que respeitava a distribuição total das lojas originais e inseria elementos arquitetônicos modernos e exigidos pelas atuais legislações de segurança foi colocado em prática na construção do novo Mercadão. Com pisos modernos, ventilação controlada, escadas rolantes e total reestruturação dos sistemas hidráulicos e elétricos, o reformulado Mercadão de Madureira reabria as portas em outubro de 2001.
Até hoje ele se mantém como grande centro comercial do subúrbio, com mais de 580 lojas de diversos segmentos e recebendo cerca de 80 mil pessoas por dia, tendo sido reconhecido como Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial em julho de 2012.
Fontes: Portal Mercadão de Madureira e Mercadão de Madureira: Caminhos de Comércio, de Ronaldo Luiz Martins