Agosto de 1958 marca o início da bossa nova comercialmente, quando o vinil de João Gilberto chegou às lojas com as músicas Chega de Saudade – de Vinicius de Moraes e Tom Jobim – e Bim Bom – do próprio João. Porém, para os jovens cariocas moradores de Copacabana, o gênero nasceu dois anos antes, ainda sem nome, nas reuniões de Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e outros no apartamento de Nara Leão, no Edifício Palácio Champs Elysée, no Posto Quatro.
O jeito de cantar baixinho e falado, as letras de temas leves e descompromissados e a melodia parecida com um novo samba, cheio de influência do jazz americano, conquistaram os jovens da Zona Sul que não se sentiam representados pelas valsas e serestas de sucesso, eternizadas nas vozes de Nelson Gonçalves, Orlando Silva e Carlos Galhardo, nos anos 1950.
Das salas dos apartamentos para os bares do Beco das Garrafas, o novo estilo musical se espalhou e conquistou fãs até chegar, em 1962, ao histórico concerto no Carnegie Hall, em Nova York.
A partir de 1965, a bossa passou a dividir as atenções com outras novidades no cenário musical: nesse ano, a canção Arrastão, composta por Vinicius de Moraes e Edu Lobo e cantada por Elis Regina no I Festival da Música Popular Brasileira da TV Excelsior, ganhou o rótulo de MPB. No entanto, apesar do surgimento de novos estilos e artistas, a bossa nova nunca acabou completamente. Diversos músicos tiveram longas carreiras nacionais e internacionais e influenciam gerações até hoje.
Principais personagens e canções
É impossível falar de bossa nova sem destacar o trabalho de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Nara Leão, Roberto Menescal, Baden Powell, Edu Lobo e tantos outros. Vinicius de Moraes era um autor publicado e respeitado quando se aventurou pela bossa. Em 1956, Tom Jobim, pianista já conhecido na noite carioca, foi apresentado a Vinicius e, assim, uma das parcerias mais importantes da música brasileira teve início. O diplomata Vinicius, junto com o maestro Tom Jobim, o baiano João Gilberto e “A Divina” Elizeth Cardoso, lançou em 1958 o LP Canção do Amor Demais.
Vinicius tornou-se parceiro também de Carlos Lyra, nas canções Coisa Mais Linda, Primeira Namorada e tantas outras. Ao lado de Baden Powell, que em 1959 lançara o LP Apresentando Baden Powell, emplacou Só por Amor, Canção de Amor e Paz, Formosa e muito mais. Em 1962, na Boate Au Bon Gourmet, no Rio de Janeiro, Os Cariocas, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto participaram do Encontro, um dos mais importantes shows daquela época. Lá foram lançados, entre outros clássicos, Garota de Ipanema, Só Danço Samba, Insensatez, Ela É Carioca e Samba do Avião.
Também em 1962, após o lendário Festival da Bossa Nova, no Carnegie Hall – com Vinicius, Tom, Carlos Lyra, Sérgio Ricardo, Chico Feitosa, Roberto Menescal –, João Gilberto fixou residência em Nova York e lançou, nos EUA, o álbum The Boss of Bossa Nova. Nara Leão, que durante a adolescência recebia os amigos músicos em seu apartamento, ganhou do cronista Sérgio Porto o título de Musa da Bossa Nova. Em 1963, Nara iniciou a carreira profissional, integrando o elenco do musical Pobre Menina Rica, de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. No mesmo ano, gravou as faixas É Tão Triste Dizer Adeus e Promessas de Você. Em 1964, gravou o LP de estreia, intitulado Nara.
Roberto Menescal, que possuía uma das academias de violão mais concorridas da Zona Sul, acompanhava com o instrumento nomes como Sylvinha Telles, Maysa, Dorival Caymmi, Aracy de Almeida e Billy Blanco. Formou parceria com Ronaldo Bôscoli em canções como Jura de Pombo, O Barquinho, Ah, Se Eu Pudesse, Errinho à Toa, Rio, Você. Em 1962, ao lado de Maysa, viajou à Argentina em turnê e, ainda durante a década de 1960, gravou seis LPs. Até hoje Menescal continua na ativa, mantendo viva a tradição da bossa nova.
Patrimônio
A bossa nova se tornou muito mais do que um estilo musical: durante as décadas de 1950 e 1960, o termo traduzia um estilo de vida. A música dos jovens despojados e despreocupados de Copacabana e Ipanema se transformou em sinônimo de modernidade, de tudo que era novo. Juscelino Kubitschek, com o apelido de Presidente Bossa-Nova, ganhou música escrita por Juca Chaves em 1959, e pediu a Tom Jobim e Vinicius de Moraes uma canção sobre a nova capital. Surge então, Brasília, Sinfonia da Alvorada, composta em 1960.
Pela importância mundial e a influência para várias gerações de artistas, a Prefeitura do Rio declarou a bossa nova Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial. O decreto leva em consideração o valioso legado cultural do gênero não só para a história da cidade.