Olaria é um dos diversos bairros cariocas formados a partir da antiga Freguesia de Inhaúma. Integra a chamada Zona da Leopoldina e faz divisa com Penha, Ramos, Engenho da Rainha, Complexo do Alemão e Maré. Nele já moraram vários personagens ilustres, como Pixinguinha, Paulinho da Viola, Vanderlei Luxemburgo e a cantora Iza, entre outros.
O bairro tem esse nome porque, na primeira metade do século XIX, Francisco José Pereira Rego comprou terras – entre o Caminho da Matriz, atual Estrada do Itararé, e o Morro da Penha – que pertenciam ao Engenho da Pedra. Ali instalou várias fábricas de tijolos para aproveitar o barro vermelho do solo, tornando o lugar conhecido como Região das Olarias. No final dos anos 1800, outras manufatureiras de cerâmica ali se fixaram. Em 1886, a localidade já era conhecida como Olaria, pois a estação de trem foi inaugurada com este nome.
Outra figura importante na ocupação da região é Custódio Nunes que, em 1892, ganhou da Prefeitura uma permissão temporária para abater seis cabeças de gado, semanalmente, para abastecer seu açougue. Alugou uma parte das terras da Fazendinha da Penha para instalar um matadouro e uma área onde os bois pastavam, antes de irem para o abate.
Em 1902, Custódio Nunes convidou para sócio Quincas Leandro, um dos chefes do maior frigorífico da cidade: o São Diogo, que ficava na Praça da Bandeira. Isso facilitou a renovação da permissão temporária do matadouro e a aprovação do aumento do número de animais para abate. Com a expansão dos negócios, Custódio Nunes comprou terras da Fazenda Grande da Penha. Loteou uma parte e abriu várias ruas com o nome de familiares, como a Doutor Nunes, Filomena Nunes e Dona Carlina, entre outros logradouros.
Na mesma época, a família Rego fez o mesmo com suas terras, loteando terrenos e criando ruas como a Leopoldina Rego, Antônio Rego e João Rego. Nesses novos loteamentos, foram morar, principalmente, imigrantes portugueses e italianos, estes últimos em escala bem menor.
A outra parte das terras compradas por Custódio Nunes foi destinada ao matadouro e ao campo de pasto, área que passou a ser chamada de Invernada de Olaria (ou Campo da Boiada). Tratava-se de uma faixa localizada entre o conjunto IAPI da Penha (que só viria a ser contruído no fim da década de 1940) e as imediações da Rua Bariri, estendendo-se da linha de trem até a orla da Baía de Guanabara. A maior parte da região da Invernada só foi loteada na década de 1960, quando o matadouro, já decadente, foi finalmente desativado. É nesse loteamento que fica a sede da 4ª Coordenadoria Regional de Educação da SME.
Futebol
Um grupo de rapazes que moravam nas imediações da recém-aberta Rua Filomena Nunes fundou em, 1915, o Olaria Futebol Clube (OFC), cujo time treinava em um terreno localizado na Rua Leopoldina Rego. Mais ou menos na mesma época, funcionários do matadouro também criaram seu time de futebol e jogavam em um campo da Invernada, na Rua Bariri.
Em 1920, as duas trupes se juntaram e o OFC passou a se chamar Olaria Atlético Clube (OAC). A sede oficial foi instalada no campo da Rua Bariri, cujo terreno foi doado por Noemia Nunes, filha de Custódio, que morreu em 1916. O estádio do clube, Mourão Filho, só foi inaugurado em 1947 e o Parque Aquático, apenas na década de 1960. Em 1972, Garrincha se transferiu do Botafogo para o Olaria, onde encerrou sua carreira.
No final da mesma década, o OAC revelou o jogador Romário para o mundo do futebol. Com apenas treze anos, entrou em campo com a camisa do time, numa partida do Campeonato Carioca Sub-15 contra o América. Era a primeira vez que ele entrava em campo para defender um clube. Fez três gols, tendo o jogo terminado em 5 a 1 para o Olaria e com Romário como o destaque da partida. O campeonato terminou com o Olaria campeão e com o atacante como artiheiro.
Era Vargas
Durante a Era Getúlio Vargas (1930-1945), foram criados vários Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP). Além das tarefas previdenciárias, os IAPs também cumpriam papel relevante na política habitacional do Governo Federal. Cabia-lhes a construção e o financiamento de moradias para as categorias de trabalhadores as quais estavam vinculados. Um desses institutos era o IAPC, da categoria dos comerciários, que inaugurou, em 1945, um conjunto habitacional de 85 blocos de sobrados e com infraestrutura dotada de escolas, salão de festas, pracinha, etc .
Um ano antes, havia sido inaugurada a Avenida Brasil, aumentando a mobilidade dos olarienses. Na época, o cinema era uma das principais diversões da população e o bairro contava com os cines Theatro Oriente, Olaria, São Geraldo e Santa Helena, sem falar de vários outros localizados na Região da Leopoldina. A inauguração do estádio Mourão Filho contribuiu com a modernização do bairro.
Feições atuais
Cortado pela linha de trem, Olaria divide-se em dois lados distintos: um mais residencial, entre a estação de trem e a Avenida Brasil, onde fica o Olaria Atlético Clube; e outro mais comercial, entre a ferrovia e o Complexo do Alemão, onde fica o 16º Batalhão da Polícia Militar, que se instalou no bairro em 1981, pouco após a inauguração de um conjunto habitacional para policiais militares na proximidade.
Com vários barzinhos , um dos locais de lazer mais procurados pelos moradores é o Largo das Cinco Bocas (oficialmente chamado de Praça Doutor Waldir da Mota), em alusão às cinco ruas que ali desembocam. Até o início da pandemia de Covid-19, o Olaria Atlético Clube também lotava nos fins de semana, com suas piscinas e seus eventos, como feijoadas e shows. Mas o lugar mais frequentado por moradores de outras partes da cidade é o bloco de carnaval Cacique de Ramos, que apesar de ser batizado com o nome de outro bairro, tem sede em Olaria. Tal como o OAC, antes da quarentena, sua quadra ficava lotada aos domingos com a tradicional roda de samba.
Olaria tem boa infraestrutura como bairro de classe média. Conta com vários mercados, lojas de serviço, escolas públicas e particulares, além de uma biblioteca pública, a João Ribeiro, que, apesar de ser vinculada à Secretaria Municipal de Educação, é aberta a todos. Embora tenha uma estação de trem, que circula entre a Central do Brasil e Duque de Caxias, os ônibus são os meios de transporte mais utiizados pelos olarienses. A linha 484 – Olaria-Copacabana – é uma das principais do bairro, cujos moradores protestaram bastante quando tentou-se extingui-la ou reduzir seu trajeto. O bairro também conta com uma estação de BRT.