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Cordovil e a expansão do Rio para a Zona Norte
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Publicado em 04/02/2019
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Cordovil em destaque no mapa (Imagem: Reprodução Google)
Cordovil em destaque no mapa (Imagem: Reprodução Google)

Situado na Zona da Leopoldina, Cordovil faz limite com os bairros de Parada de Lucas, Vista Alegre, Irajá, Brás de Pina e Penha Circular, e pertence à XXXI Região Administrativa (Vigário Geral). O bairro abriga o conjunto habitacional da Cidade Alta – que em 2019 completa 50 anos –, construído com o intuito de abrigar moradores removidos de favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro. 

Ocupação inicial de Cordovil

No século XVII, as terras correspondentes ao bairro pertenciam ao provedor da Fazenda Real, Bartolomeu de Siqueira Cordovil, e, depois, ao seu filho, Francisco Cordovil de Siqueira e Mello. O Engenho dos Cordovil possuía extensos canaviais que se espalhavam pela planície em direção a Irajá.

Pela propriedade, posteriormente loteada, passava a estrada do Porto Velho de Irajá e, mais tarde, a primeira estrada Rio-Petrópolis, correspondendo às ruas Itabira e Bulhões Marcial. Com a implantação da Estrada de Ferro do Norte (depois Leopoldina) – que ligava a cidade do Rio à Raiz da Serra, hoje Piabetá (Magé) –, foi inaugurada, em 1910, a estação de Cordovil, sendo o trem de extrema importância para o desenvolvimento da região da Leopoldina.

Com a abertura da Avenida Brasil, na década de 1940, foi implantado o Trevo das Missões (nos anos 1950), que dá acesso à nova Rodovia Rio-Petrópolis, Washington Luiz. Cordovil também abrangia a Ponta do Lagarto e a ilha do Saravatá, aterradas entre as décadas de 1980 e 1990, e atualmente cortadas pela Linha Vermelha.

O complexo da Cidade Alta 

Obras da Cidade Alta concluídas e, acima, prédios do Vista Mar, ainda em conclusão (Foto: Relatório COHAB GB, 1969)

Inaugurado em 1969, o Conjunto Habitacional da Cidade Alta fez parte do projeto de erradicação de favelas executado pela Coordenação de Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Rio de Janeiro (CHISAM), entre as décadas de 1960 e 1970. Situado no entroncamento da Rodovia Washington Luís com a Avenida Brasil, o conjunto foi construído para alojar moradores removidos de favelas, sobretudo, da Zona Sul da cidade. 

Seus 64 edifícios abrigaram, principalmente, moradores da extinta Favela da Praia do Pinto, localizada no Leblon, onde hoje está o condomínio Selva de Pedra. A remoção dessas pessoas se deu após um incêndio na comunidade, de causas desconhecidas.

Os prédios, que levam nomes de bairros do Rio de Janeiro, como Rio Comprido, Urca e Copacabana, eram coloridos, possuíam jardins e ficavam a aproximadamente 20 quilômetros do Centro – mais perto do que outros conjuntos construídos naquela época, como o da Vila Kennedy, em Bangu. Os apartamentos foram financiados pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), que parcelava o pagamento em 20 anos.

Além desse conjunto habitacional, outros dois integram o complexo da Cidade Alta: Porto Velho (mais conhecido como Pé Sujo) e Vista Mar (Bancários), além de comunidades que surgiram no entorno, como Divineia (Parque Proletário de Cordovil), Avilã, Serra Pelada e Vila Cambucí (chamada também apenas de Cambuci). Essas favelas foram formadas, em grande parte, por ex-moradores do conjunto da Cidade Alta, que venderam os apartamentos e construíram casas nos terrenos dos arredores.

Sucesso do cinema nacional, o filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, teve cenas gravadas na Cidade Alta. 

Matérias do [i]Jornal do Brasil[/i] de 28 de março (esquerda) e de 11 de junho, ambas de 1969 (Fonte: Hemeroteca Digital - Biblioteca Nacional)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No documentário Remoções, dirigido por Luiz Antonio Pilar e Anderson Quack, um grupo de moradores removidos da Praia do Pinto resgatam um samba que versa sobre a mudança para o Conjunto Habitacional da Cidade Alta:

Antigamente eu morava no Leblon/ Para chegar ‘no’ meu trabalho, não pegava condução/ [...] O trabalho não me cansa/ O que me cansa é pensar/ Naquele maldito incêndio/ Que destruiu o meu lar/ Não tenho tempo para nada/ Não posso mais passear/ Dispensei a namorada/ Só penso em trabalhar/ Agora vejam vocês/ Aonde eu vim morar/ Em Cordovil/ Pertinho do Irajá.

Carnaval e futebol 

Conjunto Habitacional de Cidade Alta em 1968 (Foto: Biblioteca IBGE)

Junto com os moradores da comunidade da Praia do Pinto, chegou ao bairro o Grêmio Recreativo Escola de Samba Independentes do Leblon, primeira escola de samba da Zona Sul carioca, fundada em 1946, e cuja sede funcionava nas imediações de onde hoje está instalada a Cobal. Rebatizada de G.R.E.S. Independentes de Cordovil, tendo como cores o azul-celeste e o amarelo-ouro, a escola ficou conhecida como o Dragão da Leopoldina, e só encerrou suas atividades no final da década de 1990. 

Hoje, o Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco do Barriga é o representante da folia e do carnaval no bairro. Fundado em 1944, nas cores azul e branco, sua sede fica na Rua Mar Grande. Na quadra, são realizados shows e eventos.

Ex-jogador do Clube de Regatas do Flamengo nas décadas de 1970 e 1980, companheiro de Zico, Júlio César da Silva Gurjol, conhecido pela torcida como Júlio César Uri Geller, nasceu e foi criado em Cordovil. O apelido de Uri Geller veio, segundo Ruy Castro, no seu livro O Vermelho e o Negro, “por entortar os seus adversários com seus dribles assim como o freak israelense entortava talheres com o pensamento”, referindo-se a Uri Geller, israelense que se tornou famoso em 1970 por demonstrar supostos poderes paranormais. 

Imagem: Reprodução Data Rio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fontes:

https://apps.data.rio/armazenzinho/historia-dos-bairros/
BRUM, Mario Sergio Ignácio. Cidade Alta: história, memórias e o estigma de favela num conjunto habitacional do Rio de Janeiro. Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2011. 
https://oglobo.globo.com/rio/arquiteto-da-cidade-alta-no-rio-chora-ao-lembrar-das-imagens-de-violencia-no-local-21292279
SILVA, Wellington da. “Diz-me onde moras e te direi quem és”: um estudo de hierarquia habitacional na Cidade Alta – Rio de Janeiro. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. 2013.
ZALUAR, Alba. Cidade de Deus: a história de Ailton Batata, o sobrevivente/ Alba Zaluar e Luiz Alberto Pinheiro de Freitas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2017.

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