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Vital Brazil descobriu como neutralizar o veneno de cobras brasileiras e doou patente para o Estado
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Publicado em 11/05/2021
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Vital Brazil superou o medo que tinha de cobras para pesquisar a cura para o veneno delas (Foto: Museu Casa de Vital Brazil)
Vital Brazil superou o medo que tinha de cobras para pesquisar a cura para o veneno delas (Foto: Museu Casa de Vital Brazil)

A maior contribuição científica de Vital Brazil foi descobrir que o soro para tratar picadas de cobra tem que ser específico, isto é, ele constatou que o soro criado a partir do veneno da naja – o único disponível em fins do século XIX – não fazia efeito contra os venenos de serpentes brasileiras.

"Ele foi um cientista de obra completa – desvendou algo desconhecido, desenvolveu a tecnologia e também produziu soros e medicamentos", explica Luis Eduardo Cunha, pesquisador do Instituto Vital Brazil, em vídeo da instituição no You Tube.

A Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro homenageia o cientista com o nome da unidade E.M. Vital Brazil (2ª CRE), no Flamengo. Outro legado que devemos, em grande medida, ao pesquisador é o Instituto Butantan, de São Paulo, que foi criado para que Vital Brazil produzisse o soro antiofídico em larga escala. O cientista chegou na fazenda Butantan em 1899 para organizar, instalar e dirigir o laboratório de produção de soro.

Além disso, Vital Brazil é pioneiro no estudo da Imunologia. Segundo Osvaldo Sant’Anna, pesquisador do Instituto Butantan, no Caderno de História da Ciência da instituição, "foi Vital Brazil quem demonstrou, pela primeira vez, um dos principais conceitos básicos em Imunologia, o princípio da especificidade antigênica, assinalando a necessidade de se obter antissoros contendo anticorpos diferentes para neutralizar toxinas originárias de serpentes de gêneros distintos".

"Pobre não estuda medicina, emprega-se no comércio"

Foi essa frase que Vital Brazil, aos 21 anos, ouviu no Rio de Janeiro, de um conselheiro do Império, quando apresentou uma carta de recomendação pedindo auxílio, pois o jovem vinha de São Paulo, possuía poucos recursos materiais, e queria estudar medicina. A outra faculdade disponível no Brasil ficava na Bahia.

Vital não desanimou e procurou emprego nos jornais a fim de financiar a si próprio e seu sonho. Conseguiu vaga como professor no Colégio Froebel. Em 1891, formou-se na Escola de Medicina do Rio de Janeiro.

De médico a pesquisador

Retornou a São Paulo e se casou, em 1892, com Maria da Conceição Philipina Pereira de Magalhães, com quem teve 12 filhos. Vital Brazil foi contratado pelo Serviço Sanitário do Estado de São Paulo. Em 1895, decidiu deixar o serviço público para clinicar no interior do estado.

Vital Brazil extrai veneno de serpente, 1900/1 (Foto: Museu Casa de Vital Brazil)

Começou a pesquisar sobre o tratamento de acidentes com picadas de cobras, comuns no interior. Teve acesso ao estudo de Albert Calmette, do Instituto Pasteur, na França, que propôs a soroterapia para picadas de cobras em 1894. Entusiasmado, Vital resolveu voltar a São Paulo, onde teria melhores condições de pesquisa.

Em 1897, Vital Brazil ingressou no Instituto Bacteriológico dirigido por Adolpho Lutz na capital paulista e foi nomeado Inspetor de Saúde Pública do Estado de São Paulo. Nessa instituição, Vital Brazil extraiu a peçonha das serpentes mais encontradas no Estado – cascavel, jararaca, urutu e jararacuçu e determinou as quantidades de veneno e suas doses letais para vários animais de laboratório.

Em seguida, descreveu os sinais e sintomas apresentados pelos animais de laboratório em relação às diferentes espécies de serpentes; realizou autópsias observando as diferenças da ação das diferentes peçonhas; e imunizou cães e cabritos, verificando que o cão é um animal muito resistente ao veneno e facilmente imunizável, enquanto o cabrito é muito mais sensível.

Nesse período, conseguiu uma ampola do soro de Calmette e fez testes com a substância. Para sua surpresa, o soro falhou, todos os animais usados na experiência morreram. Vital se perguntou o que havia acontecido. Ele estava convencido de que a soroterapia era o caminho certo e a procedência do soro, produzido pelo Instituto Pasteur da cidade francesa de Lille, atestava a qualidade do produto.

Ele repassou todas as suas experiências realizadas até então, analisando seus resultados. A atenção do cientista voltou-se para a observação feita por si mesmo sobre as diferenças da ação dos diversos venenos que havia utilizado. Ou o soro utilizado tinha perdido sua atividade em função do tempo decorrido desde sua fabricação, ou o soro produzido com o veneno de naja (cobra encontrada na África e na Ásia, onde haviam colônias francesas) não era ativo para o veneno das cobras brasileiras.

Considerando a segunda hipótese, Vital Brazil resolveu imunizar alguns cães com venenos de cascavel e outros com o de jararaca. Preparou também os respectivos soros para verificar a especificidade. Constatou que o soro anticrotálico (do nome científico da cascavel brasileira – crotalus durissus terrificus) é ativo contra o veneno da cascavel e o botrópico contra os venenos das espécies Bothrops (nome científico da jararaca). Desse modo, Vital Brazil descobriu o princípio da especificidade dos soros antipeçonhentos.

Vital Brazil foi o principal responsável pela criação de dois importantes centros de pesquisa brasileiros: o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Vital Brazil, em Niterói (Foto: Instituto Vital Brazil)

Em 1898, Vital Brazil entregou um relatório com suas observações e conclusões sobre a soroterapia antiofídica a Adolpho Lutz, que reconheceu o valor destes primeiros ensaios e solicitou ao governo a criação de um instituto onde Vital Brazil pudesse prosseguir suas investigações. No Instituto Bacteriológico não havia espaço suficiente, nem instalações para o cativeiro das serpentes, para estabulação de grandes animais e para os serviços de imunização - o que inviabilizava a fase final do trabalho: a produção do soro em larga escala.

Butantan e Instituto Vital Brazil

Foi comprada a Fazenda Butantan e Vital Brazil instalou e dirigiu o laboratório para produzir o soro antipestoso. Em 1905, além do soro antiofídico, o Butantan já produzia também soro antidiftérico, antitetânico, antidesintérico, antiestreptocócico, antiaftoso e antilicósico.

Vital Brazil morava na fazenda Butantan com a família. Em 1913, perdeu a mãe e a esposa. A irmã o ajudou no cuidado com os filhos e na administração da casa.

Em 12 de agosto de 1917, o cientista doou formalmente a patente dos soros antipeçonhentos ao governo de São Paulo.

Ele dirigiu o Butantan até 1928. O pesquisador criou ainda o Instituto Vital Brazil, em Niterói, onde conheceu sua segunda mulher, Dinah Carneiro Vianna, com quem teve nove filhos.

Vital Brazil faleceu aos 85 anos, em 8 de maio de 1950, no Rio de Janeiro.

A infância e a adolescência de Vital Brazil

Vital Brazil Mineiro da Campanha nasceu na cidade mineira de Campanha, que o batiza, em 28 de abril de 1863. O nome inusitado se deve a desavenças familiares. Em vez de usar o sobrenome da família, o pai colocou a cidade, o estado e o país (Brasil se escrevia com z) onde o filho tinha nascido. O primeiro nome – Vital – se deve ao santo do dia. Apesar dos desentendimentos recíprocos entre o pai e o avô, Vital passou a primeira infância na fazenda do avô, o coronel Pimenta, como era conhecido o proprietário de terras e escravos.

Quando Vital tinha sete anos, a família se mudou para Caldas (MG). Por intermédio do avô, o pai dele se tornou tabelião naquela cidade. Durante esse tempo, Vital ganhou mais sete irmãos, tornou-se adolescente e estudou com um jornalista e, depois, um pastor protestante.

O pai de Vital Brazil teve que vender o cartório para pagar dívidas de jogo e foi com a família para São Paulo, que, com 25 mil habitantes, já era o centro da província. O pai empregou-se como porteiro no Colégio Morton e Vital, aos 15 anos, trabalhou como condutor de bonde.

Posteriormente, Vital lecionou no curso primário do colégio onde o pai trabalhava em troca de cursar o secundário.

Fontes:

Cadernos de História da Ciência, do Instituto Butantan

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