Aracy Telles de Almeida nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro em uma família evangélica. Do Encantado, na Zona Norte, conseguiu trabalhar nas principais rádios e gravadoras das décadas de 1930 e 40, emplacando sucessos nos carnavais. No decorrer da vida, ela gravou inúmeros compositores de música popular brasileira, como Noel Rosa, Wilson Batista, Antônio Maria, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e Caetano Veloso, entre muitos outros.
Nascida em 19 de agosto de 1914, Aracy começou a cantar em festas, casas de candomblé, na igreja Batista e em escolas de samba. Gravou pela primeira vez em 1934, aos 20 anos, duas marchinhas de Carnaval pela gravadora Colúmbia, acompanhada por Pixinguinha e sua orquestra. Naquele mesmo ano, conheceu Noel Rosa na Rádio Educadora. Ele gostou de ouvi-la cantar e a convidou para tomar cerveja na Taberna da Glória. Levou-a em casa, de ônibus, às 4 horas da manhã. A família de Aracy não aprovava essa vida boêmia e, por causa disso, a cantora saiu da casa dos pais. A grande amizade com Noel durou até o fim da vida dele, interrompida seis anos depois. Noel fez para ela Seu riso de criança e, em 1935, Aracy já gravava outra música do compositor da Vila, Triste Cuíca.
Outro personagem fundamental na vida de Aracy foi Mr. Evans, diretor artístico da gravadora Victor, que a contratou como solista. Seu primeiro grande sucesso foi Palpite infeliz, de Noel Rosa, no Carnaval de 1936. A cantora também foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga. Depois, mudou-se para a Rádio Tupi por conta de um melhor contrato financeiro. Assim, saía do miserê, como dizia a canção de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, de 1940.
Aracy foi casada com o goleiro Rei (José Fontana), do Vasco. Ela não gostava de falar sobre sua vida amorosa. Ao amigo Hermínio Bello de Carvalho, declarou que não se importava se o objeto de seu amor fosse homem, mulher, ou coisa, pelo tempo que durasse, como Hermínio conta no livro Araca - a arquiduquesa do Encantado.
De 1948 a 1952, Aracy se apresentou na boate Vogue, em Copacabana. O local era frequentado pela alta sociedade carioca. O espetáculo tinha arranjos de Radamés Gnatalli e foi lançado em um álbum de luxo, com capa do pintor Di Cavalcanti, pela gravadora Continental. Foi por trabalhos como esse que Aracy tornou as canções de Noel Rosa consagradas na música popular brasileira.
Em 1965, Aracy participou do espetáculo O samba pede passagem, do grupo Opinião, cujo diretor era Vianinha, no Teatro de Arena. Fez um dueto com Ismael Silva na música A razão, dá-se a quem tem. No ano seguinte, juntou-se a Sérgio Porto e Billy Blanco em um show de música e humor na boate Zum Zum, em Copacabana. Nesse show, eles eram acompanhados pelo conjunto de Roberto Menescal.
Em 1968, Aracy estava irritada com o fato de ligarem seu nome tão somente ao amigo falecido Noel Rosa e se queixou a Caetano Veloso, pedindo a ele que fizesse uma música para “esculhambar” com essa ideia. Caetano atendeu Aracy e compôs A voz do morto.
Nas décadas de 1970 e 1980, Aracy de Almeida participou como jurada de programas de calouros na TV (Chacrinha e Sílvio Santos). Quando a perguntavam sobre sua motivação, ela dizia: “é melhor do que ficar em casa fazendo crochê”.
Aracy faleceu em 1988, aos 74 anos. Vivia em uma casa modesta no mesmo bairro onde nasceu. A Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro rende homenagem à cantora no nome do Ciep Aracy de Almeida (8ª CRE), em Jardim Sulacap, Zona Norte. É possível ouvir as músicas gravadas por Aracy, bem como depoimentos em áudio da cantora no documentário Aracy de Almeida é coisa nossa – a bossa e o veneno do samba em pessoa, de Rodrigo Alzuguir e Pedro Paulo Malta, de 2018.