Francisco Carlos da Silva Cabrita (1857-1923) foi uma importante figura no campo da Educação, na época de transição entre Brasil Império e República.
Engenheiro, ele exerceu diversos cargos na administração pública republicana.
Foi professor e diretor da Escola Normal do Distrito Federal, antiga Escola Normal da Corte – que formava os futuros docentes da cidade do Rio de Janeiro.
Integrou o grupo que analisou e reformulou os programas de ensino da recém instaurada República, sendo responsável pela área das Matemáticas.
Foi, ainda, diretor do Ginásio Nacional – atual Colégio Pedro II – e diretor-geral da Instrução Pública Municipal do Distrito Federal.
Publicou artigos e estudos em revistas de Educação, além de ter sido autor de livros didáticos, principalmente, nas áreas de Aritmética e de Geometria.
A Escola Municipal Francisco Cabrita (2ª CRE), inaugurada em 1932, na Tijuca, homenageia o educador.
Trajetória ligada à Educação
Francisco Cabrita nasceu em 10 de março de 1857, na cidade do Rio de Janeiro.
Formou-se em Engenharia Civil em 1879, na Escola Politécnica, onde atuou como professor (1884) e como vice-diretor (1891).
Considerada o Berço da Engenharia Brasileira, a Escola tinha sede no Largo de São Francisco, no prédio ocupado, hoje, pelos Institutos de Filosofia e Ciências Sociais e de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Ainda durante a graduação, Cabrita iniciou sua carreira no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, como docente e secretário auxiliar da direção.
Com a Proclamação da República, no final de 1889, ocorreram novas mudanças. Francisco Cabrita foi nomeado diretor da Escola Normal do Distrito Federal – da qual era, naquele momento, professor de Geografia –, por Benjamin Constant, antigo diretor e então ministro da Guerra.
A instituição funcionava no prédio que abriga, hoje, no Centro, a Escola de Formação Paulo Freire, que passou a ter sob sua responsabilidade o Centro de Referência da Educação Pública da Cidade do Rio de Janeiro – Anísio Teixeira.
Na ocasião, o educador foi incumbido de estruturar uma reforma, cujo objetivo era reorganizar o ensino normal e primário.
Cabrita dirigiu, ainda, o Ginásio Nacional, atual Colégio Pedro II, onde ficou conhecido pelo “espírito disciplinador”.
Entrevista de Francisco Cabrita ao Jornal O Paiz
Em matéria publicada na primeira página do jornal O Paiz de 23 de abril de 1906, Francisco Cabrita é apresentado como alguém “de reconhecido prestígio e de indiscutida competência”.
Na entrevista concedida ao periódico, ele demonstra pessimismo quanto à necessidade de os poderes públicos destinarem recursos para a instrução primária e critica a falta de reconhecimento do valor da instrução por parte dos pais.
“Acho [a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário] belíssima conquista, mas que jamais se executará, porque não haverá governo decidido a gastar com a instrução primária o que ela merece e o que lhe imporia a gratuidade. [...] Ainda assim; não haveria meios de obrigar os pais levar os filhos à escola; nem castigos, nem multas, nem prisões. O mal é dos costumes; o povo ainda não compreende, não sabe o valor da instrução – isto que é preciso ensinar-lhe primeiro, sem ser pela compressão.”
Publicações e contribuições para a Matemática
Francisco Cabrita colaborou em diversas revistas pedagógicas, como O Estudo e A Escola Primária, editadas pela professora Esther Pedreira de Mello.
Também escreveu prefácios de livros, além de estudos e artigos em diferentes áreas do conhecimento, como Geografia, Língua Portuguesa e Aritmética-Geometria.
E foi na Matemática que mais se destacou, por meio de textos teóricos e com estratégias de ensino.
Teve atuação relevante no movimento de sistematização da Álgebra para o ensino elementar, na qual o ensino dos normalistas e do secundário seria um pouco mais aprofundado.
Escreveu as obras Curso de matemáticas elementares (1883) e Elementos de Geometria (1890). Nesta, Cabrita fez uma adaptação da obra do matemático francês Alexis Claude de Clairaut, ora traduzindo, ora escrevendo por conta própria.
Francisco Carlos da Silva Cabrita morreu em 28 de novembro de 1923, no Rio de Janeiro. Foi casado com a professora Amélia Frazão de Araújo Cabrita, com quem teve quatro filhas, que também seguiram a carreira do magistério.
Fontes:
Dicionário de Verbetes do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ).
Site da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
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MARQUES, Gabriel Rodrigues Daumas. A Educação do Corpo e o Protagonismo Discente no Colégio Pedro II: mediações entre o ideário republicano e a memória histórica da instituição (1889-1937). Rio de Janeiro, 2011.
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