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O talento e a perseverança de José Maurício venceram o preconceito
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Publicado em 24/11/2017
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José Maurício Nunes Garcia, litografia feita por seu filho, José Maurício Nunes Garcia Júnior
José Maurício Nunes Garcia, litografia feita por seu filho, José Maurício Nunes Garcia Júnior

 

José Maurício Nunes Garcia foi um dos melhores compositores brasileiros de música sacra. Em pleno século XVIII, driblou preconceitos de cor, tornou-se regente da realeza e formou toda uma geração de músicos, incluindo o autor do Hino Nacional brasileiro.

 Neto de escravos e filho de pardos libertos, ficou órfão de pai aos 6 anos, em 1773, no Rio de Janeiro, local onde nasceu. Foi criado pela mãe e uma tia, que notaram o talento do menino (cantava bem, tinha boa memória e tocava viola e cravo por conta própria) e o colocaram para estudar Música. Ele também frequentou as aulas régias (ensino laico e público, introduzido pelo Marquês de Pombal em Portugal e suas colônias), aprendendo História, Geografia, Francês, Italiano, Gramática Latina e Filosofia. Com 12 anos, dava aulas de Música, ajudando nas despesas domésticas. Escreveu sua primeira obra aos 16 anos – a antífona (melodia curta cantada antes e depois do Salmo) Tota pulcra es Maria (Toda bela sois, Maria).

Na época do Brasil Colônia, a atividade musical com remuneração era quase tão somente voltada para as funções religiosas (dias de santos, Natal, nascimentos, funerais, etc.). Natural que um músico de família pobre almejasse tornar-se padre não levando em conta apenas o aspecto espiritual do cargo. Desse modo, José Maurício ordenou-se aos 25 anos. Para tanto, teve que driblar a exigência da constituição eclesiástica, que determinava aos padres serem livres do “defeito de cor”. Ele pleiteou ao bispo, por escrito, a dispensa desse quesito, argumentando que possuía as qualidades necessárias ao posto.

Em 1795, foi nomeado professor público de Música e instalou um curso em sua casa, onde lecionou por 28 anos seguidos, gratuitamente. O professor dispunha apenas de uma viola de arame para ensinar, mas grandes músicos e cantores do Rio de Janeiro daquela época ali tomaram as primeiras lições. Três anos depois, foi escolhido como mestre de capela da Sé, para a qual compunha e regia e que se situava na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos (na atual Rua Uruguaiana). Apesar dos votos de celibato, manteve uma relação conjugal com Severina Rosa de Castro, mestiça livre, 22 anos mais nova, com quem teve cinco filhos entre 1807 e 1813.

Capela Real

Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, foi criada uma Capela Real, instalada na Igreja da Ordem Primeira de Nossa Senhora do Carmo, junto ao Paço. Lá, D. João incluiu os sacerdotes e os músicos da Sé, atitude que sofreu resistência por parte do clero vindo de Lisboa, que considerava a pele negra um “defeito físico”. Apesar disso, o príncipe regente confirmou José Maurício como mestre de música da Capela Real, que poucos anos depois se tornaria a Sé do Rio de Janeiro.

Padre José Maurício toca cravo para D. João, Carlota Joaquina e Marcos Portugal. Óleo sobre madeira, de Henrique Bernardelli. Acervo do Museu Histórico Nacional

 Em 1809, D. João mandou chamar ao Rio de Janeiro os cantores e músicos da Igreja Patriarcal de Lisboa. A presença desses artistas tornou a cidade um importante centro musical daquele período. Eles também influenciaram diretamente as composições do mestre de capela, que passou a escrever árias para a extensão vocal e os recursos técnicos dos solistas. Além da música sacra, José Maurício compunha para teatro e modinhas populares. Exemplos são as músicas feitas para a peça Ulissea, drama eroico, sobre uma conquista bélica de Portugal, e a modinha Beijo a mão que me condena.

O reconhecimento por D. João do talento de José Maurício pôde ser notado, mais uma vez, na concessão que lhe fez da Ordem do Hábito de Cristo, que, além do prestígio, garantia uma renda extra mensal. O gesto foi motivado por uma apresentação do padre no Palácio da Quinta da Boa Vista, na qual tocou cravo e cantou obras de Mozart e Cimarosa.

Todo seu apreço, no entanto, não o fez esquecer os dotes artísticos do mestre de música Marcos Portugal, que permanecera em Lisboa apesar da convocação de 1809. Em 1811, o príncipe regente expediu uma convocação específica para ele, que, finalmente, aportou no Rio naquele mesmo ano.

Sua vinda não destituiu José Maurício do cargo de mestre da Capela Real, mas, de fato, houve uma divisão de funções: Marcos Portugal ficou responsável pela música nas principais cerimônias da Capela Real e José Maurício compunha para eventos na Quinta da Boa Vista e na Fazenda de Santa Cruz.

O talento de José Maurício foi reconhecido por outros estrangeiros ilustres. O pintor francês Nicolas-Antoine Taunay, que havia chegado em 1816, e seus descendentes tornaram-se admiradores e, em 1819, um artigo publicado no jornal Allgemeines Musikalisches Zeitung, de Viena, elogiou a primeira apresentação do Requiem, de Mozart, no Brasil, com regência do padre.

Capela Imperial

A volta da corte portuguesa à Europa e os eventos turbulentos que a sucederam foram aos poucos desmantelando o trabalho de música da Capela Real: após a independência, a situação financeira do país obrigou D. Pedro I a cortar os benefícios extras concedidos aos músicos da corte; em 1831, depois da abdicação, o governo regencial dissolveu a Orquestra da Capela (que a essa altura havia se tornado) Imperial. José Maurício não viveu para ver a dissolução da orquestra. Faleceu em 1830, aos 62 anos.

A atividade musical na Capela Imperial foi restaurada em 1842, a mando de D. Pedro II. O monarca nomeou um ex-aluno de José Maurício para mestre de capela. Francisco Manuel da Silva viria a compor o Hino Nacional brasileiro e fundaria o Conservatório Imperial de Música, atualmente Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ouça as composições de José Maurício Nunes Garcia

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