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A Covid-19 no contexto da história da Educação e da escola pública
15 Março 2021 | Por Márcia Pimentel
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IPS interno
As desigualdades sociais se aprofundaram ainda mais com a pandemia. Foto: Alberto Jacob Filho, MultiRio

Mais de 90% da população estudantil de todo o planeta foi afastada da sala de aula, em 2020, aumentando o quadro das desigualdades sociais, segundo a Unesco. Ainda que o retorno às aulas presenciais esteja ocorrendo paulatinamente em várias cidades do Brasil e do mundo, grande parte da carga horária do ensino continua dedicada às atividades remotas.

Tais cirunstâncias, unidas às incertezas sobre a Covid-19 e às críticas ao modelo escolar hegemônico, transformaram a pandemia em um grande ponto de reflexão acerca dos rumos da Educação. Na opinião de António Nóvoa, por exemplo, embaixador da Unesco e professor da Universidade de Lisboa, a Covid-19 acelerou a história, impondo a necessidade de se abrir um novo tempo na vida da escola. Mas em que ponto dessa história a pandemia atingiu a escola, a mais importante instituição da área de Educação da sociedade contemporânea?

Modelo escolar

As redes de ensino público surgiram no século XIX baseadas, principalmente, nos princípios iluministas de que a emancipação social, humana e da nação só poderia ser promovida pelo conhecimento oriundo da racionalidade. Tais redes foram criadas a partir do modelo de escola que surgiu no século XVI, período histórico de grandes mudanças econômicas, da Reforma Protestante e da Contrarreforma, quando foram desenvolvidos métodos para ensinar grupos de maneira simultânea.

Conforme artigo de Celso Kraemer e Claudia Fusinato, além do ensino simultâneo de grupos de alunos, foram os protestantes da época que criaram uma novidade fundamental à nova lógica escolar: a obrigatoriedade da frequência e o tempo de permanência na escola. Após o Concílio de Trento (1546-1563), transformações no ensino também foram introduzidas pelos católicos, que desenvolveram técnicas como a organização do espaço e do tempo, a regulação de conteúdo e os mecanismos disciplinares para controle dos alunos.

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Sala de aula em 1921. Biblioteca Nacional da França, domínio público

Após a Revolução Francesa, o modelo escolar de ensino desenvolvido por católicos e protestantes foi apropriado pelos Estados que, no século XIX, começaram a implantar as redes públicas de ensino. No Brasil, esse novo paradigma educacional começou a ser instituído, timidamente, no Segundo Reinado, mas atendia a poucos.  A grande maioria da população permanecia analfabeta e os mais abastados continuavam educando seus filhos com preceptores e professores particulares.  

O modelo de escolarização implantado no século XIX – caracterizado por estratégias de aprendizagem, métodos de ensino, avaliação do rendimento escolar, notas, frequências, provas e fragmentação do tempo em horas/aulas – atravessou o cotidiano escolar dos séculos XX e XXI e só foi interrompido, de forma drástica, pela pandemia da Covid-19: professores perderam seu território (a sala de aula), o tempo entre alunos e professores se dessincronizou (desregulamentando os horários), a exigência da frequência escolar se dissipou em função da dificuldade de acesso às tecnologias (escancarando as desigualdades sociais), o currículo e as formas de avaliação tornaram-se mais flexíveis... O coronavírus, enfim, desestruturou a organização do sistema de ensino, no Brasil e no mundo.

Escola Nova

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Anísio Teixeira, ícone do movimento Escola Nova brasileiro.Wiki Commons, domínio público

Em fins do século XIX, o modelo de escola implantado já era duramente criticado. Surgiu o movimento internacional chamado Escola Nova, que ganhou adeptos de renome no Brasil,  na década de 1920. Criticava-se, entre outras coisas, a didática que exigia que os alunos decorassem conteúdos sem fazê-los pensar sobre o assunto e as metodologias das disciplinas, a exemplo de Língua Portuguesa,  cujo ensino partia do latim. Reivindicava-se uma maior autonomia dos estudantes, mais liberdade nos métodos de ensino, inovações nas estratégias didáticas, a necessidade de se levar em consideração o conhecimento prévio do aluno e muitas outras questões de ordem pedagógica.

Na verdade, o debate sobre a inovação pedagógica esteve no centro das discossões durante toda a primeira metade do século XX, embora as mudanças, na opinião de Carlota Boto, professora da Faculdade de Educação da USP,  tenham sido tímidas no período. Segundo ela, o formato de escolarização instituído no século XIX estava tão cristalizado na rotina escolar, que os debates pedagógicos não conseguiam ultrapassar os portões da escola e chegar à sala de aula.

Com a universalização do acesso ao Ensino Fundamental, no Brasil, novos desafios e questionamentos vieram à tona na década de 1960. Já não eram mais os filhos das elites letradas que estudavam nas redes públicas, mas os pupilos da massa analfabeta e excluída do país. A escola pública se deparou com dificuldades perante essa nova realidade. Por que parcela expressiva das crianças não conseguia acompanhar os degraus sucessivos da escolarização? O que fazer diante disso? Nivelar por baixo ou reprovar os alunos de forma maciça? O que determinava o fracasso escolar? Seria a carência das famílias? O grande tema do debate pedagógico, enfim, se transformou na busca de superação do fracasso escolar.

A escola e seu público

Nos anos 1970, cresceram as teorias que questionavam o lugar social da escola na sociedade. Vários autores passaram a apontá-la como aparelho ideológico de Estado que reproduzia as desigualdades sociais, aumentando, entre os educadores, a percepção de que a cultura familiar letrada das camadas mais favorecidas facilitava o percurso de seus filhos no galgar de cada degrau da escolarização, na forma como se era esperado.

No fim do século XX e nessas primeiras décadas do século XXI, o debate se deslocou para as questões do multiculturalismo e do debate identitário. Qual é o público-alvo da escola e como se dá sua interação com os conteúdos culturais trabalhados pela instituição? Ganhou força a ideia de um currículo multicultural, não centrado em modelos europeus e norte-americanos.

Muitos também passaram a avaliar que a escola não poderia mais se ater apenas aos aspectos dos grupos identitários. A diversidade não estaria relacionada apenas às origens socioculturais, mas também às expectativas de cada aluno perante a escolarização. Dessa forma, a crítica à escola tradicional se aprofundou, já que a grade curricular e as formas de avaliação não estimulariam a responsabilização dos alunos com a sua própria aprendizagem.

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Um dos modelos de escola propostos: sem paredes, sem turmas fixas e sem divisão de alunos por ano escolar. Foto: Alberto Jacob Filho, MultiRio

Surgiu, até mesmo, um movimento chamado de Desescolarização que se colocou como contraponto à escola padrão. Seus defensores passaram a defender a ideia de que a aprendizagem deve estar sempre relacionada a uma demanda real e nunca imposta. Sem a escola, pais e filhos encontrariam, por eles mesmos, caminhos para formatar e direcionar a educação das crianças e dos jovens da família.

Novas redes de informação

Com a popularização dos computadores e celulares, a partir da virada do século XX para o XXI, os impactos da computação e da internet no sistema de ensino passaram a fazer parte dos debates. O novo contexto, conforme vários autores, retirou a Educação de sua redoma protegida pela centralidade do livro didático e da palavra do professor. As novas formas de acesso à informação exigiriam, segundo eles, mudanças nas relações e nos papéis exercidos por alunos e professores. Estes últimos, dizem, teriam que se transformar em mediadores e contextualizadores dos diferentes tipos de saberes: científicos, religiosos e do senso comum.

É nesse cenário de mais de um século de críticas que a Covid-19 interrompeu as aulas presenciais dos alunos do planeta, impactando  espaços, tempos e modos de ensinar e de aprender. Mais que isso. Marcus Aurélio Taborda de Oliveira, professor do Departamento de Ciências Aplicadas da Educação da UFMG, indaga-se como, após mais de um século de instrução de práticas higienizadoras, a sociedade, durante a pandemia, ainda precisou ser ensinadas sobre os mais elementares hábitos de higiene.

Para ele, é preciso olhar as possibilidades educativas como um caleidoscópio que pode não levar ao lugar que se pretende e se almeja, pois a experiência e a aprendizagem sempre serão clivadas por questões (de ordem social, racial, política, religiosa, de gênero e de classe) que ampliam ainda mais as indagações sobre o papel da escola e a escola que queremos.

Fontes:  

    - A invenção histórica da escola e escolarização no Brasil – Claudia Vanielle Fusinato e Celso Kraemer

    - Ensino híbrido: desafio da contemporaneidade? – Eder Alonso Castro Vanessa Coelho Rosania Soares Lirek Kalyany Silva de Sousa Juliana Olinda Martins Pequeno Jonathan Rosa Moreira

    - Genealogia da Escola Nova no Brasil - Wojciech Andrzej Kulesza

    - História da Educação e Covid-19: crise da escola segundo pesquisadores africanos, americanos e europeus - Tony Honorato e Ana Clara Bortoleto Nery

    - História da Educação no Brasil – Fernanda Arcando e Midori Hanashiro

    - A invenção da Escola pública e seus desdobramentos no Brasil: entre o ideal de modernidade e os problemas contemporâneos - Libânia N. Xavier e Miriam W. Chaves

 
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